O pão é um dos alimentos mais comuns em nossos lares. Por esta causa, o cultivo do trigo sempre foi muito importante. Na bíblia, encontramos muitas referências a esse cereal, cujas características e utilização serviram para ilustrar diversos ensinamentos espirituais. Ele estava, inclusive, vinculado ao culto judaico através das primícias (Ex.34.22; Lv.23.17; 2Cr.31.5), dos pães da proposição (Ex.25.30) e outras ofertas (1Cr.21.23; Ez.45.13). Na igreja, temos sua presença no pão da ceia do Senhor, representando o corpo de Cristo (Mt.26.26).
Em todos os tempos, a escassez do trigo era motivo de tristeza para o povo e representava, algumas vezes, sinal do castigo divino:
"O campo está assolado, e a terra triste; porque o trigo está destruído, o mosto se secou, o azeite acabou" (Joel 1.10).
Sua fartura era sinônimo de prosperidade e alegria:
"E livrar-vos-ei de todas as vossas imundícias; e chamarei o trigo, e o multiplicarei, e não trarei fome sobre vós (Ez.36.29).
"Os campos se vestem de rebanhos, e os vales se cobrem de trigo; eles se regozijam e cantam" (Sal.65.13).
"As eiras se encherão de trigo, e os lagares transbordarão de mosto e de azeite". (Joel 2.24).
(As referências bíblicas geralmente associam o trigo ao vinho e ao azeite, elementos de grande valor simbólico no Novo Testamento. O vinho, como símbolo do sangue de Jesus, e o azeite representando a unção do Espírito Santo).
Quando queremos comer pão, vamos à padaria, onde podemos encontrá-lo nas mais variadas formas e tamanhos. Entretanto, existe um longo caminho que antecede esse momento. Queremos, todos os dias, encontrar o produto pronto, disponível para o consumo, mas tudo começa com a semeadura.
Nas nossas vidas, nem sempre encontraremos para comprar aquilo que desejamos. Muitas vezes precisaremos semear e cultivar. Não se pode comprar experiência, habilidade, maturidade, confiança, credibilidade e uma boa reputação. São resultados de uma vida. Os jovens, principalmente, precisam estar atentos a isso. As decisões, escolhas e comportamentos de hoje determinam o que será colhido no futuro.
"O reino dos céus é semelhante ao homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou joio no meio do trigo, e retirou-se" (Mt.13.24-25)
Nossa existência é um campo fértil. O que vamos semear? As boas sementes precisam ser cultivadas, mas as ruins prosperam por si mesmas ou são semeadas pelo inimigo. As ervas daninhas e os espinhos tentam sufocar a boa semente (Mt.13.7,22)
"Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto" (João 12.24).
Lançar o grão ao solo parece perda e desperdício. Assim é toda renúncia que fazemos em prol do reino de Deus. Ao falar sobre o grão de trigo, Jesus se referia a si mesmo, sua morte e ressurreição. Ele haveria de dar a sua vida para que muitas outras fossem salvas. Depois que o grão cai ao chão, vem um longo tempo de espera, antes que ele ressurja, com uma nova forma, para produzir muitos grãos. Seja paciente e cuide de sua lavoura.
"Eis que o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência, até que receba as primeiras e as últimas chuvas" (Tg.5.7).
Aguarde o crescimento da planta, a produção da espiga e o seu amadurecimento. Não podemos ser precipitados nas nossas vidas, tentando antecipar o que deve ser esperado. Por outro lado, no tempo da maturidade, não se deve esperar, mas colher.
"Levantai os vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa" (João 4.35).
"Assim que o fruto amadurecer, logo lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa" (Mc.4.29).
Na semeadura, enterra-se a semente. Parece o seu fim, mas não é. Da mesma forma, depois que a planta nasce, cresce, produz e sua espiga amadurece, vem a foice para cortá-la, em outro momento de aparente destruição, mas a colheita não é o fim. É o início de uma nova etapa.
O trigo colhido deve ser debulhado e exposto ao sol para secar. Depois vem o processo de separação entre o grão e a palha.
"Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor" (Jr.23.28).
A palha é muito importante para proteger o grão durante o processo de crescimento e amadurecimento. Depois, torna-se inútil e precisa ser arrancada. Para tanto, os povos dos tempos bíblicos pisavam o trigo ou colocavam-no sobre uma grande pedra, chamada eira, e batiam nele com varas. O vento ia retirando a palha solta, enquanto o grão, por ser mais pesado, continuava sobre a pedra.
"Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará" (Mt.3.12).
Quando os grãos estão limpos, ainda não terão chegado ao fim do processo. Uma parte deles pode ser tostada e servida (ISm.25.18). Outros porém, se transformarão em farinha para que se faça o pão.
Depois de tanto `sofrimento'
"O trigo é esmiuçado, mas não se trilha continuamente, nem se esmiúça com as rodas do seu carro, nem se quebra com os seus cavaleiros" (Is.28.28).
Quando a farinha está pronta, acrescenta-lhe água, sal e azeite. Esta é a massa do pão asmo. Se for acrescentado fermento, torna-se pão comum e será necessário esperar seu crescimento. Em ambos os casos, a massa será levada ao forno quente, onde ficará até que esteja completamente assada e pronta para o consumo.
Disse Jesus: "O pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo".
Disseram-lhe, pois: "Senhor, dá-nos sempre desse pão".
Declarou-lhes Jesus. "Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome... Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre" (João 6.33,34,35,51)
Cristo, o único que pode saciar a fome espiritual do homem, passou por um longo processo. Ele foi moído pelas tribulações, para ser o pão da proposição que entraria no santuário e se apresentaria diante de Deus.
"Ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades.
Quando serviu a ceia, "Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo" (Mt.26.26).
A ceia, enquanto memorial da morte do Senhor, aponta para a cruz, onde seu corpo seria transpassado e seu sangue derramado.
O Novo Testamento aplica aos cristãos as lições do trigo (Mt.13.30), da farinha (Mt.13.33), da massa (ICo.5.6-7; Gal.5.9) e do pão (ICo.5.8). Nós passamos por diversas etapas no processo para desenvolver em nós a imagem de Cristo. Em vários momentos, achamos que é o nosso fim, mas depois percebemos que era apenas uma passagem. Às vezes, somos colocados para esperar. Também passamos por tribulações que parecem destruidoras. Entretanto, não seremos aniquilados. A tribulação está sujeita aos limites estabelecidos por Deus (Is.28.28). A palha está sendo arrancada. Haverá perdas nesse processo, mas o resultado será excelente. O que é superficial será rompido para que a essência se manifeste.
Podemos passar por situações que não merecemos, porém necessitamos. O que o trigo fez para apanhar tanto? Nada. Jesus também apanhou sem ter cometido crime algum.
O inimigo procura interferir em todas as fases dessa transformação. Tenta furtar a semente (Mt.13.19), misturar joio no nosso campo (Mt.13.25), colocar fermento maligno na nossa massa (Mt.16.6,12)
O joio, planta semelhante ao trigo, muitas vezes se encontra no meio do trigal, mas é poupado de muitas maneiras. Não é propósito do agricultor levá-lo à eira nem ao moinho. Nesses momentos, enquanto o trigo está sofrendo, o joio fica isento de tudo. Enquanto os filhos de Deus são disciplinados, os ímpios parecem superiores e vivem em melhores condições. Contudo, o joio está reservado para o fogo, pois para nada mais serve. Seu fim é ser queimado.
O trigo será guardado no celeiro. Assim como Jesus entrou no santuário, apresentando-
"Pois assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles ajuntarão do seu reino todos os que servem de tropeço, e os que praticam a iniquidade, e lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerã
Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
Postar um comentário